terça-feira, 12 de junho de 2012

Alimentando as ovelhas ou divertindo bodes?


Charles Haddon Spurgeon

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos, em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.

Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? "Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16.15). Isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres (Efésios 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciaram entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fezê-los? Os concertos de música não têm um rol de mártires.

Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? Vós sois o sal, não o docinho, algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor. Deixa aos mortos o sepultar os próprios mortos (Lucas 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade!

Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo atrás do povo dizendo: Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!

Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou divertí-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos! Qualquer coisa que tinha a aparência do mal de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso de recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos. Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição, foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles transformaram o mundo. Essa é a única diferença! Senhor, limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos.

Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada, de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.

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Nota Belverede:

A reprodução deste artigo é feita em caráter informativo e sua reflexão é recebida parcialmente.

Entendemos que para tudo na vida é preciso manter o equilíbrio. Quanto ao entretenimento não é diferente, é preciso ser moderado.

Ponderamos que nem todas as modalidades de entretenimento se configuram em pecado. É possível ser um autêntico cristão e ao mesmo tempo divertir-se, desde que o divertimento não seja usado nas modalidades que a Bíblia Sagrada o descreve como obras da carne (Gálatas 5.16-23), e não seja uma ação que troca os compromissos evangelísticos e de culto a Deus.

Não é razoável fazer comparação entre a vida dos apóstolos e a vida cristã dos tempos atuais da sociedade brasileira, pois no passado os crentes da Igreja Primitiva estavam em período de perseguição religiosa, eram presos e mortos, então não havia ambiente para promoverem uma festividade aberta, construirem templo religioso, salão de confraternização.

Sugerimos a meditação em Eclesiastes 11.9-10; 12.1-4 e Filipenses 4.8.


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