terça-feira, 24 de junho de 2008

O mundo gira sob os pés de Kaká




Melhor jogador do mundo em 2007, craque brasileiro do Milan é símbolo de sucesso e testemunho cristão O sucesso tem nome — Ricardo Izecson dos Santos Leite —, mas, se você preferir, pode chamar pelo apelido: Kaká. Eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, campeão do mundo pela seleção brasileira, em 2002, e do Mundial de Clubes pelo Milan, em 2007, ele alcançou, aos 25 anos, vários títulos que muitos jogadores perseguiram em vão por toda a carreira, e já figura na história recente do futebol brasileiro ao lado de nomes como Ronaldo e Romário, entre outros. Mas a comparação com esses e outros craques pára aí. Diferentemente de muitos jogadores, cuja vida pessoal é constantemente devassada pela imprensa — principalmente aqueles que granjeiam fama por conta do comportamento nada ortodoxo —, Kaká tem uma rotina bastante incomum para um atleta tão bem-sucedido. Ele é discreto (pelo menos, até onde a fama internacional permite), avesso a baladas e ostentações, não se envolve em escândalos e, principalmente, dá testemunho de sua fé em Cristo de maneira corajosa. “Estamos encantados pelo que ele faz em campo e como se apresenta fora dele”, chegou a afirmar Silvio Berlusconi, presidente do Milan. Kaká representa uma oposição ao conceito do bad boy, bastante comum num esporte capaz de produzir celebridades e milionários muito jovens. Isso não significa, naturalmente, que o craque precise ser um crítico dos procedimentos dos colegas mais inquietos. Ele mesmo rejeita essa responsabilidade. “Cada um faz a sua escolha de vida”, diz. No entanto, ao conciliar o sucesso com a defesa de uma vida virtuosa, Kaká se torna uma referência. A publicidade já percebeu isso, e vive requisitando a imagem do craque para promover produtos, principalmente artigos esportivos. “Eu tenho meus valores e sou muito radical em relação a isso. Sei que, através do futebol, acabo sendo um grande exemplo para muitos; o que posso passar são os meus valores.” Uma das maiores contribuições que o jogador oferece à divulgação da mensagem do Evangelho é proclamar esses valores sem medo da oposição — justamente o que não falta quando alguém resolve nadar contra a corrente da permissividade e da vaidade. “Como diz Paulo, dos pecadores, sou o maior. Também tenho os meus pecados. Mas, por exemplo, a virgindade até o casamento é um valor muito importante, e era para mim também, por isso resisti. E foi uma grande bênção para mim e para a minha esposa”, afirma. Para Alex Dias Ribeiro, ex-piloto de Fórmula 1 e integrante do conselho da organização Atletas de Cristo do Brasil, esse choque cultural provocado por pessoas como Kaká é absolutamente natural. “Ele é um cristão de verdade, e cristãos sérios devem mesmo brilhar, como está escrito em Mateus 5:16. O cristianismo é a contracultura do mundo, e Kaká é um baita exemplo, mais ainda para nós, os cristãos.” Ele elogia a coragem do jogador, que não teve receio de erguer o uniforme do Milan na comemoração pela conquista do Mundial de Clubes da Fifa, no fim do ano passado, e mostrar a camiseta que vestia, onde se lia: “I belong to Jesus” (“Eu sou de Jesus”). O gesto poderia ser interpretado pelos adeptos do politicamente correto como uma afronta a outras religiões e resultar em punição. Mesmo assim, Kaká aceitou o risco. “Ele peitou a Fifa. Tentei fazer isso no automobilismo e me passaram o rodo”, conta Alex, que corria com os dizeres “Jesus saves” (“Jesus salva”) pintados nos carros que pilotava. Susto Kaká nasceu em Brasília, mas desde pequeno morou na capital paulista. Sua história não é a do menino pobre que mudou de vida por causa do futebol. A família nunca enfrentou dificuldades. Na infância, ele estudou no Colégio Batista Brasileiro, em Perdizes, mas conforme se envolveu com as categorias de base do time do São Paulo, passou a viver no bairro do Morumbi, um dos mais nobres da cidade. Na adolescência, passou por um grande susto: uma brincadeira em piscina gerou uma fratura de vértebra perigosa. Recuperado, voltou a jogar bola seis meses depois, mas a experiência o levou a um envolvimento ainda maior com a igreja. Em 2003, já consagrado no São Paulo e na seleção brasileira, Kaká foi contratado pelo Milan, onde levantou o título da primeira temporada do campeonato italiano que disputou e consolidou sua condição de craque. Hoje, vários títulos depois, é titular absoluto na equipe e no meio-de-campo da seleção brasileira. É evidente que a projeção proporcionada por tanto sucesso no esporte potencialize seu testemunho. “O sucesso com a torcida vem do que eu tenho realizado em campo e das minhas conquistas. Com certeza, é uma boa forma de pregar o Evangelho através do futebol”, avalia o jogador, que já tornou público seu desejo de ser pastor e que, vez por outra, tem a oportunidade de falar da razão de sua fé a atletas, empresários e celebridades com quem tem a oportunidade de conviver ou fazer algum contato. “Alguém sempre quer saber um pouco mais sobre Jesus. O esporte é um grande ministério, uma grande forma e estratégia de Deus para pregar o Evangelho a toda criatura.” É claro que Kaká não é o primeiro jogador evangélico a testemunhar sua fé. Nos anos 1980 e 1990, atletas como Silas (que também atuou pelo São Paulo), Baltazar (que jogou no Grêmio e no Botafogo) e João Leite (consagrado como goleiro do Atlético Mineiro) falavam a respeito de Jesus dentro e fora de campo, em uma época na qual essa atitude ainda causava certo estranha-mento. “A diferença é que o Kaká foi o jogador que chegou mais longe”, opina Jorginho, auxiliar técnico da seleção brasileira, ele mesmo um atleta de Cristo daquela primeira geração. Admirador, tal como o técnico Dunga, do futebol do craque do Milan, Jorginho acredita que o profissionalismo de Kaká é um fator fundamental na imagem positiva que ele formou diante do público, principalmente entre os não cristãos. “Ele leva o esporte muito a sério”, conta. “Com a gente, na seleção, ele é até mais brincalhão, mas só fora de campo. É um grande profissional, merecedor de tudo o que conquistou.” Jorginho acredita que Kaká é, hoje, a prova mais evidente de que é possível fazer sucesso sem negligenciar os valores cristãos. “A decisão de guardar o sexo para o casamento, por exemplo, foi um grande testemunho para meus filhos adolescentes. Muita gente não entende o fato de ele entregar o dízimo à igreja porque as coisas de Deus só se discernem espiritualmente”, diz. Em paz Questões que envolvem o relacionamento com sua igreja, aliás, não parecem preocupar o craque. No fim do ano passado, Kaká causou alvoroço na imprensa brasileira ao anunciar que deixaria o troféu de melhor jogador do mundo em 2007, conferido dias antes pela Fifa depois de uma pontuação recorde, na Igreja Renascer justamente no período em que os líderes cumpriam pena nos Estados Unidos por entrarem com mais dinheiro que o permitido pelo país sem exigência da declaração na alfândega. No mesmo dia, o jogador declarou seu amor pelo casal, motivo de mais barulho. Apesar disso, Kaká não se intimidou. “A Bíblia fala que a paz é o árbitro em nosso coração, e estou em paz com isso”, garante. “Não dei o troféu à Igreja Renascer, ao apóstolo Estevam (Hernandes) ou à bispa Sônia. Entreguei ao Senhor. Como Josué, quando teve a sua primeira conquista na Terra Prometida, em Jericó, as primícias eram do Senhor. Esse é o sentimento que tenho em meu coração.” O troféu está exposto na sede da Igreja, em São Paulo, num espaço que homenageia o jogador por suas conquistas. Considerando a trajetória de Kaká, é provável que o lugar logo fique pequeno para comportar tantas glórias.

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