segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Importância da Pureza do Evangelho



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Por: Solano Portela



Filipenses 1:12-18 e Gálatas 1:1-10

Temos nesses dois trechos palavras importantes sobre a necessidade da preservação do conteúdo da mensagem, ou seja: A Importância da Pureza do Evangelho. Tratando de duas situações diferentes, Paulo nos deixa importantes instruções e princípios que clamam para serem aplicados, nos dias atuais.

Apesar de flexível em sua metodologia e abordagem, a preocupação suprema de Paulo era com a preservação do conteúdo da mensagem. Sua prescrição de eficiente comunicação (Colossenses 4.6 - “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” ) leva em consideração a conservação não adulterada da verdade a ser transmitida. Essa preocupação superava, inclusive, até a própria necessidade de sinceridade, na transmissão das verdades. Embora possa parecer chocante, Paulo dava mais importância à integridade da mensagem do que à sinceridade dos mensageiros. Este contraste é evidente com um exame de duas situações vividas por Paulo: A primeira está em Filipenses 1.12-18 , onde lemos:



12. Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho;

13. de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tonaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais;

14. e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus.

15. Alguns efetivamente proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade;

16. Estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho;

17. aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.

18. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.


Aqui Paulo fala que a sua prisão resultou no progresso do evangelho. Sua influência se fazia sentir na guarda pretoriana — de poderosa importância no estado romano. Em função dele estar preso, muitos passaram a proclamar a mensagem, dando continuidade ao seu trabalho. Estes foram estimulados, no Senhor, por suas algemas e passaram a falar com mais desassombro e ousadia.

Essas pessoas agiam de “boa vontade” (15) e “por amor” (16). Entretanto, Paulo tinha plena ciência que alguns se aproveitaram do fato dele estar preso e passaram a evangelizar não por zelo, mas por “inveja e porfia” (15) Provavelmente pretendiam se sobressair e, quem sabe, tomar até o lugar de Paulo, na liderança das várias igrejas visitadas.

O impressionante, é que Paulo registra o fato mas, friamente, ele analisa que ele é o único que está sendo prejudicado, pois estes últimos pregavam “por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias “ (17) Este prejuízo pessoal, ele não levava em consideração (“para mim o viver é Cristo, o morrer é ganho... Fp 1.21”) e chega a admirável conclusão (18): “Todavia, que importa? Uma vez que Cristo de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.”

Não é que os motivos não fossem importantes — ele elogia a atitude e a motivação dos que pregavam em sinceridade. Mas a preocupação central de Paulo era com o conteúdo do evangelho, e aqui não há qualquer indicação que os motivos (quer de boa vontade, quer em insinceridade) ou os métodos (Cristo de qualquer modo , está sendo pregado) adulteraram a mensagem cristalina do Evangelho da Graça, pois Cristo era pregado (v. 17). Paulo, então, se alegra, se regozija! Calvino disse, sobre este trecho: “Paulo não diz nada aqui que eu mesmo não tenha experimentado” (citado em Lensky - Intepretation of St. Pauls' Epistles - Phillipians , p. 729)

A outra situação é encontrada na carta aos Gálatas (1.6-9). Paulo, mais uma vez, fala de crentes “não tão quentes” que estão desenvolvendo um ministério paralelo ao seu, indo de igreja em igreja pregando. Verificamos, entretanto, que a reação de Paulo é diferente daquela expressa na carta aos Filipenses, no trecho já examinado. Os dez primeiros versos dizem o seguinte:



1. Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos),

2. e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:

3. Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo,

4. o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,

5. a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.

6. Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,

7. o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.

8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.

9. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.

10. Porventura procuro eu agora o favor de homens, ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.


Nos versículos 1 a 5 da carta aos Gálatas, Paulo fez a sua apresentação, indicando a sua autoridade apostólica, demonstrando que ela vem de Deus e não de homens. A carta foi primariamente dirigida à Igreja da Galácia, mas teve ampla circulação entre as demais igrejas. Paulo dá glória a Deus e indica que Jesus Cristo se deu por nós para nos livrar das maldades desta era, passando a tratar de um problema que estava surgindo naquela igreja: a aceitação de um evangelho adulterado.

No v. 6 ele mostra uma profunda perturbação interna – “estou assombrado” demonstrando grande admiração que os membros daquela igreja estivessem mudando rapidamente de convicções. A afeição e lealdade estava sendo colocada em outra doutrina, pois estavam dando ouvidos a “alguns” (v. 7) que perturbavam e queriam perverter o evangelho de Cristo. Pregavam um outro evangelho (grego: heteros -- distinção com o outro, do verso seguinte, que é allos. Aqui, heteros = ouk allo, ou seja diferente, não outro). Paulo referia-se, sem dúvida, aos judaizantes que pretendiam adicionar algumas coisas “palpáveis, visíveis”, à simples pregação do evangelho. Quem sabe eles diziam que era apenas uma questão de método? Talvez fosse muito mais atraente, desse mais substância, ou talvez até, mais emoção ao evangelho. Estas pessoas se apresentavam com autoridade e se propunham a declarar o método de salvação. Paulo mantém a designação “evangelho” porque era apresentado como tal., mas na realidade, diz ele, não é evangelho nenhum (sistema diferente, mensagem diferente, doutrina diferente)!

No v. 8, Paulo dirige-se ao fundo do seu extenso vocabulário Grego para classificar estas pessoas e lança uma fortíssima condenação. Independentemente de quem quer que seja: estas pessoas, ele próprio, ou até um anjo do céu—se vier trazer um evangelho que vá além (note que não era necessariamente diferente na aparência, mas com algumas coisinhas adicionadas) daquele que eles tinham previamente ouvido da parte dele, tal pessoa deveria ser considerada anátema (isto é: amaldiçoado). Estas palavras contêm uma terrível responsabilidade a nós que fomos comissionados a pregar e a transmitir as verdades de Deus.

Para que não pairasse qualquer dúvida sobre o seu zelo, sobre sua posição, ele repete mais uma vez as mesmas palavras, no versículo 9. Não quer ser mal-entendido, não quer deixar “passar em branco”, não quer parecer precipitado - é um pensamento depurado e destilado sob o fogo do zelo e sob o direcionamento sobrenatural do Espírito Santo.

Podemos negligenciar o aviso contido e pensar que Paulo se referia somente à sua situação específica. Afinal, não temos mais judaizantes em nosso meio! Muitos de nós chegam a fazer, corretamente, a aplicação destas palavras à pregação da Igreja Católica Romana, como suas adições e condições anexadas à Graça salvadora de Cristo. Isto não basta, porque com pouca freqüência paramos para analisar o que está acontecendo no campo chamado “evangélico” e aqui, tristemente, mas não raramente, encontramos a proclamação de “outro” evangelho.

Muitos de nós temos um julgamento ingênuo ou caridoso em excesso (com uma brandura que se contrapõe à severidade de Paulo)—com relação ao que está acontecendo na esfera de proclamação do evangelho e de crescimento de igrejas, em nossa terra. Paulo poderia ter particularizado a questão, especificado quem ele combatia, mas quis o Espírito Santo, em sua soberania, deixar a colocação de forma genérica, de tal modo que o princípio fosse enfatizado — não podemos mexer com o cerne do evangelho.

Uma aplicação desses princípios é na questão dos “sinais e maravilhas”, ou na chamada “religião do poder”. Sabemos que esses “sinais e maravilhas” atraem as multidões. Já era assim na época de Jesus, quando as multidões acorriam a ele, mas muitos não estavam interessados na mensagem de salvação, buscavam apenas a sensação carnal de ver algo diferente (Paulo diz em 1 Co 1.21 que os judeus buscavam sinal). Paulo também foi chamado pelos filósofos de Atenas (Atos 17) não porque eles estivessem interessados na mensagem do Evangelho, mas porque queriam ouvir sobre o grande fenômeno que era a ressurreição de Jesus, apenas pela novidade do tema.

Nesse sentido, vemos que a agitação da doutrina e liturgia neopentecostal agrada as pessoas. Mas devemos pensar seriamente no que Paulo diz em Gl 1.10: “Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou o de Deus? ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo”. O propósito de Paulo não era agradar a homens, não era a conformação com as doutrinas correntes atuais, não era a harmonia acima da verdade. Mas, era agradar a Deus e ser fiel a ele.

No versículo 11 ele continua: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Eis a razão de Paulo para ter esta convicção: o evangelho não é doutrina de homens, mas sim revelação de Jesus Cristo. Este contraria a perspicácia, os desejos e as motivações carnais do homem. Temos a coragem de “remar contra a maré” e proclamarmos o puro Evangelho de Cristo, sem os “apêndices” que as igrejas vêm adicionando à mensagem?

Na epístola aos Filipenses, Paulo mostrou-se bastante tolerante com relação àqueles que pregavam a Cristo até com o motivo errado, mas sem adulterar o conteúdo da mensagem. No trecho examinado da carta aos Gálatas, Paulo demonstra total intransigência com relação aos pregadores por ele mencionados. Porque as duas atitudes diferentes de Paulo? Será que ele, na prisão, quando escreveu Filipenses, estava cansado e já não se importava mais? Não! O conteúdo do evangelho estava em jogo, na segunda situação, por isso ele reage violentamente e condena esta situação com a mais forte das palavras.

Em outra carta, (2 Co 11.3 e 4), Paulo se refere mais uma vez ao perigo apresentado pela pregação de um outro evangelho, que sutilmente acha aceitação naquela igreja: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva, com a sua astúcia, assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esses de boa mente o tolerais”.

Temos que resgatar, hoje em dia, exatamente isto: a simplicidade e pureza devidas a Cristo e ao Seu evangelho da graça. Que Deus nos ajude a assim proceder e pregar, por Sua infinita misericórdia!


Fonte: [ Monergismo ]

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